Nós amamos a internet!
Disse Juliana de Faria, do Think Olga, na palestra que fez com Amanda Luz domingo no South by Southwest (SxSW). “Nós” = as mulheres. E queremos que a internet seja segura — e não um ambiente em que somos hostilizadas por exigir uma coisa bem simples: respeito.
Mas eu fiquei pensando menos nos tristes relatos de abuso e sexismo e mais na maravilha que é poder estar ali contando como é brigar por uma internet segura para as mulheres em um país machista.
Tive um pensamento raro de ocorrer em uma pessimista indomável: que época boa para estar viva. Entre outras coisas, por que a internet existe. Vinte anos atrás eu falava sozinha com um joguinho tosco no meu primeiro computador, fingindo que tinha alguém ali atrás da tela. E não podia sequer imaginar os tipos de interações que teria, através de uma tela, com pessoas de verdade, vinte anos mais tarde.
E todos nós — elas, eu, e a Martine Rothblatt — estamos em Austin, no SxSW Interactive, por causa disso.
Martine é uma espécie de realidade aumentada:
– Transexual
– Casada há 33 anos com a Bina
– A CEO mais bem paga dos Estados Unidos
– Uma otimista irrevogável que trabalha para salvar pessoas
Falei que ela quer ser imortal?
Martine acaba de lançar o livro Virtually Human: The Promise — and the Peril — of Digital Immortality e advoga para que todos sejam aceitos pelo que se reconhecem. “Every person has the right to live as they want to”. E acredita que, num futuro próximo, as pessoas terão mind clones: a minha mente fora do meu corpo. E que essa entidade deve ser reconhecida como uma cyber conscious person (detalhe: meu mind clone pode querer se divorciar de mim. Ou eu dele. Imagina o rolo).
Eu fiquei pensando em tudo que Martine disse e me deu um nó no cérebro. A fala dela foi o grande assunto ao redor das margaritas do jantar. Mas o que mais me deu alegria foi ver o respeito, a ausência de preconceito e o reconhecimento a uma mulher trans e poderosa.
No Brasil, ainda temos uma longa estrada — mas o quão longe chegamos desde 1995. Viva a Juliana e a Amanda, que ajudam a gente a chegar aqui e hoje podem contar para o mundo o que fazem para construir uma internet de amor para todos: mulheres, homens, cachorros, gatos.
Estamos todos aqui por causa da internet. E o amor se espalha através das ideias de mentes inteligentes pensando um futuro mais gentil (enquanto escrevo, assisto a uma palestra sobre “social good”). Sorrisos são distribuídos nas ruas de Austin e até eu acredito que é possível. Uma colega de profissão que eu nunca havia encontrado pessoalmente me fala sobre como acredita que a economia criativa começa a mudar o mundo. E eu ganhei um taco de graça no Whole Foods, porque ajudei o funcionário a juntar os copos que ele havia derrubado.
E terminei o dia com vontade de abraçar todo mundo.
* Publicado originalmente na Confeitaria em 16 de março de 2015.
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